Minha amiga mais velha é uma graça, embora não seja nada engraçadinha. Alta de corpo e esguia, de rosto oblongo e semblante sério, não perde a pose firme ao abrir gargalhadas quando é hora. Resistente a ataques biológicos ou aéreos, que nem coco no coqueiro, curiosa que nem tivesse três anos, está sempre faminta por livros e escritas, quase tanto quanto quer conversar com amigos em bares e redes sociais. O papo rende, se for a respeito de cultura, política e, claro, literatura, assuntos em que esbanja profundidade e aos quais confere franqueza elegante. Caso julgue necessário, porém, é certeiro ela emitir opiniões bem explícitas ao interlocutor.
Trata-se de figura emblemática, que vem vindo na vida faz tempo, desde Goiás Velho, onde nasceu. Com os pais, aprendeu a respeito de ditadura e sociedade e foi alargar olhares sobre o mundo, ao viver em Londres, Nova Iorque e adjacências. De lá para cá, back to Rio de Janeiro, onde viveu os anos 60, criou filhos e experimentou as artes da ourivesaria, até o momento em que se entregou de vez às artimanhas dos textos.
Tradutora de romances de língua inglesa há longa data e, ela mesma, ficcionista bem-amada de enredos emprestados da história do Brasil, apresentou recentemente seu lado contista e memorialista em livro de linguagem rica e saborosa, de título Rondó (Penalux, 2021), em Belo Horizonte, agora sua casa.
Como sambar faz parte das paixões da mulher inteligente e instigante de oitenta e cinco anos, enquanto aguarda o ensaio do bloco de carnaval, a escritora revisa textos literários e prepara nova publicação autoral; que estamos todos esperando, Sônia Sant’Anna!
Francirene Gripp de Oliveira/ France Gripp
09/02/23